quinta-feira, 24 de novembro de 2011

OS LAÇOS SEGUNDO A CARNE


"Estando Jesus falando à multidão, eis que chegaram sua mãe e seus irmãos, que ficaram de fora e procuravam falar-lhe. Então alguém  lhe disse: Eis que a tua mãe e os teus irmãos estão lá fora e querem falar contigo." Mas Jesus respondeu: Quem é  minha mãe, e quem são os meus irmãos? E apontado para os seus seguidores disse: Eis aqui minha mãe e meus irmãos. “Todo aquele que faz a vontade de Deus, este é para mim, irmão, irmã e mãe.” Mateus 12, 46-50

O fato mostra de forma clara  que Jesus rompe com os seus familiares. E que os mesmos não o seguiam, junto com o   povo, quando este iniciou sua vida pública. Por mais que tentemos aliviar o peso destas palavras elas indicam uma realidade clara: Os laços de parentesco são desconsiderados por Jesus para o relacionamento com ele. Jesus está entusiasmado pelo seguimento de muitos que o escutam. Ele expressou esta alegria quando deu graças ao Pai porque o manifestou aos simples. Mateus 11, 25-27.
É para aquele povo que ele fala e para a mãe e os irmãos dele. Só há um caminho para se tornar mãe, irmão e irmã de Jesus: Fazer a vontade de Deus.  Os vínculos de sangue não são considerados. A mãe e os irmãos de Jesus pensam que tem para com ele uma união acima da de seus discípulos ou seguidores, e naturalmente esperam que este lhes dê atenção. Lembremos que entre os hebreus a honra devida aos pais era um mandamento. Mas Jesus fala como mestre. Se quiserem está próximo de mim que façam como estes. Sigam-me, porque seguir-me, é fazer a vontade do meu Pai que está nos céus.
Nada no texto indica que Maria foi uma fervorosa discípula de Jesus durante sua vida pública. Ela ficou com os parentes quando Jesus deixou Nazaré e começou a pregar por toda a Galileia.  Como era mulher, não podia sair sozinha e sendo nesta época, já viúva, Maria ficou na companhia dos parentes mais próximos, os chamados irmãos de Jesus, ou mesmo filhos de José,  de um casamento anterior, como entende uma tradição mais antiga. Nesta época, para os discípulos de Jesus e o autor do Evangelho, Maria é apenas a mãe desconhecida de Jesus. Só mais tarde, quando Maria passa a fazer parte da família espiritual de Jesus como discípula, entre as mulheres, é que se começa a descobrir aquela que ouvia a palavra de Deus e a guardava no coração.  Se reconhecerá  desta  vez,  a  Serva do Senhor, sempre pronta a fazer a vontade de Deus, tal e qual o filho que  havia gerado.
Sem dúvida foi muito difícil para a Virgem ouvir estas palavras do próprio filho. As mães conhecem os filhos dependentes  delas. Quando estes crescem, elas ainda não conseguem separar por completo, o bebê frágil, a quem deviam proteger, do homem adulto e independente. Com certeza esta palavras do filho fizeram Maria sofrer, mas ela não se revolta ou guarda rancor.. Ela guardou, mais uma vez, sem mágoa no  coração, estas palavras do próprio Filho. Lucas 2,19. E os Evangelistas descobriram posteriormente, que ela era uma discípula do Filho, entre os discípulos. É o que as outras passagens dos Evangelhos nos querem transmitir, principalmente Lucas, com as narrativas da infância e João, quando coloca na boca da mãe do Senhor as palavras: Façam tudo o que ele vos disser. João 2, 5.
Outro aspecto que deve ser considerado neste fato da vida de Jesus é que os seus inimigos usavam com  desculpa para não acreditar nele a sua origem humana humilde. Mc 6, 1-4. A pobreza material e espiritual, no sentido de nome e fama, de seus familiares. Muitos nem sabiam que ele era da descendência  de Davi. João 6,41-42; 7,27.42 Sua mãe era uma simples dona de casa e seus irmãos, todos, apenas trabalhadores. Porque agora se apesentava como profeta e mestre. Ele, o filho de Maria, que nunca mostrara nada de extraordinário? Jesus também alerta para que não o julguem segundo sua origem humana tendo em vista os  de seus familiares.  A condição de seus familiares não servia como motivo para rejeitá-lo. Jesus proclama que fazer a vontade de Deus, como ele veio para fazer, o coloca acima da origem modesta de seus familiares. Ele é bem mais do que um filho de carpinteiro. Sua origem verdadeira está em Deus e ele veio ao mundo por vontade de Deus. João 7, 28-29.
Acredito que dentre todos os parentes foi mais difícil para Maria Santíssima, deixar em segundo lugar a sua maternidade em relação a Jesus, e ama-lo apenas como  mestre e Senhor. Ele era o filho que ela embalara nos braços e que sempre a obedecera. Agora é o mestre, o profeta, aclamado pelas multidões. E ela fora convidada por ele indiretamente, a se fazer mais uma, no meio desta multidão. Não como sua mãe, mas como uma discípula. E a Virgem mais uma vez entendeu que Deus queria ouvir dela as mesmas palavras ditas na anunciação: Eis aqui a Serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a sua vontade. (Lucas 1, 29) E Maria estará presente entre as outras mulheres, no dia de pentecostes, como discípula entre os discípulos do Filho. (Atos 1, 14) Mas os próprios discípulos de Jesus quando passam a conhecê-la, descobrem que nela, o mistério da fé em Cristo, chegou a uma plenitude digna de reverencia e imitação. Ela, que se revelou a seguidora e crente entre os crentes. Ela é o modelo mais perfeito de membro da Igreja. Mas tudo isto é conhecido, apenas quando Maria, junto com os irmãos de Jesus e os discípulos, estava unida em oração. Os laços da carne foram superados. Mais fortes se tornaram os laços com Cristo por meio da fé. E de certo modo, pela fé, Maria se torna, junto com os que creem, mais uma vez, a mãe de Jesus e a mais fiel dentre seus seguidores, porque muitos daqueles que ouviam Jesus, quando chegaram sua mãe e seus irmãos, gritaram depois  perante Pilatos: Crucifica-o! Crucifica-o! Mas, ela, a mãe, estava de pé junto à cruz dele, quando todos, até Pedro e os apóstolos, o haviam abandonado. João 19, 25
Prof. Francisco de Castro
Cascavel, 23 de novembro de 2011.

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